segunda-feira, 16 de julho de 2012

"Vos Sabés cómo te esperaba...

del día que tu madre vino y me dijo con ojos mojados que ibas a venir"


Se passaram já 15 dias sem atualizações e imagino que estejas ansioso por novidades. Mais que quinze dias, se passaram duas semanas. Sim, leitor, semanas. Essa é a nova contagem do tempo. Agora construímos nos dias e contabilizamos nas semanas. E muita coisa muda em duas semanas.

A doutora falou...


Nesses dias fizemos nossa primeira consulta do pré-natal. Nada muito surpreendente para uma casal que vem se debruçando sobre textos e mais textos a respeito do processo de gestação de  um filho. Mas acredite, por mais que nos sintamos informados, falta a palavra do profissional. Isso é o que nos acalma, que referenda nossas decisões e escolhas. Ela não disse muitas novidades. Aliás, não diria muita coisa caso eu não estivesse disposto a faze-la falar. No mais, um primeiro exame de praxe: medidas de peso, estatura e pressão. Orientações sobre as próximas consultas e pedidos de exames à granel.

Haja sangue...


Não tem como ser diferente: quero estar presente em todos os momentos dessa gestação. Os exames, as consultas, os enjoos, as dores de cabeça e - não tem como fugir disso - os momentos de fúria. A minha decisão foi a de estar ali, ao lado dela, dando meu apoio e coletando informações adicionais que possam passar sem serem notadas. Talvez seja um exagero, coisa de pai de primeira viagem; pensará você, pragmático seguidor. Mas não é! É preciso estar. Pelo amor que sinto por essa mulher, pela não assumida necessidade que ela tem de ter-me ao seu lado nesses momentos e, claro, pelo prazer de participar de alguma forma desse processo.

Os primeiros exames são laboratoriais. Tem a ver com a saúde da gestante e as intervenções que se poderão fazer necessárias para o desenvolvimento desejável do bebê. O que limita a atuação do pai. Não posso doar meu sangue no lugar dela, por mais que quisesse. O que me resta é estar ali, ao lado, vendo-a encher meia dúzia de tubos de ensaio com seu sangue. Não creia ser fácil, pois não é. E isso dignifica minha presença naquele momento.

A minha presença ao lado dela e desse filho que esperamos e que já cuidamos, reflete a presença deles na minha vida. Os sinto dentro de minha alma quando sinto meu coração batendo fora do meu corpo.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Odisseia - De volta à nova casa.

"Junto ao bom pai e à casta mãe comerem à mesma vária mesa"


Sabendo já haver uma predisposição para a aventura paterna e, também, a existência da mulher ideal, deverá supor, amigo, que tudo transcorrerá de forma para lá de tranquila. Não é verdade? Pois, então, venho para clarear um pouco a tua retina, equivocado leitor.

Existem acontecimentos sublimes e dolorosos que são capazes de nos surpreender mesmo quando nos julgamos completamente preparados. A morte, essa senhora que nos espreita em busca do melhor momento para o inevitável encontro, é uma delas. Por mais que nos julguemos preparados para esbarrar com ela por aí, como convidado ou como anfitrião - imagino -, somos surpreendidos por sua inapelabilidade. Só nos damos conta de quem é, quando a temos diante de nós.

O mesmo se pode dizer de seu contrário: o nascimento ou a notícia do nascimento de um novo humano. Esse encontro que parece renovar as esperanças em relação à vida, por mais que nos julguemos preparados, não nos passa sem admiração ou choque. Recebemos a notícia da vinda de um sobrinho, neto ou afilhado com alegria e nos preparamos para sua chegada como se fosse apenas a conclusão de um rito. O inapelável final feliz dessa novela que fazemos dia-a-dia. Mas quando chega, que vemos a concretização da realidade imaginada, é que nos damos conta do tamanho do milagre: o homem repetindo, como se fora Deus, o milagre da criação.

O que dizer, então, estimado colega, quando se trata de um filho que te diz no fundo de tua consciência: "me espere que já estou chegando"?

Junto ao bilhete, veio uma série de fotos: casa, fraldas, berço, carrinho, carinho, olheiras, sorrisos, medos... Não falava. O misto de excitação e pânico, aos poucos, se transformou num tipo de euforia contida. E sentia ali, desde aquele primeiro comunicado, crescer dentro de mim uma nova vida: a minha vida que se reestruturava em forma de abrigo.

Durante a gestação, cresce um útero imaginário localizado na cabeça do pai. E ali, dia após dia, toma forma uma nova vida. A vida que dará à sua família.


terça-feira, 26 de junho de 2012

"Você apareceu do nada..."

E você mexeu demais comigo.


Creio, leitor amigo, que você não acredite em amor à primeira vista. Não te condeno, talvez eu também não acredite. E isso torna essa história em algo ainda mais inacreditável. Mas conto que sua boa vontade em acompanhar o relato que segue.

Foi uma noite em que a vi entre amigos. Não trocamos olhares, mal trocamos palavras após uma apresentação assim, assim... Mas me chamou a atenção na hora que se levantou para ir embora. Olhei, admirei e em silêncio me perguntei de onde havia saído aquela mulher. Entrou no carro acompanhada e se foi. Assim como se foram os outros e mais tarde se foi a noite. Porém, antes de dar por encerrada a jornada, busquei na modernidade que nos cerca e nos permite este diálogo algumas informações sobre a moça. Não tardei a encontrar e desfrutar um pouco mais daquelas imagens antes de cair em sonhos impublicáveis.

Seguindo a máxima do bandido e a cena do crime, na noite seguinte voltei ao mesmo local na esperança de vê-la novamente e, agora dotado de informações, ter a oportunidade de ao menos travar um diálogo. Noite de sorte! A conversa fluía, a cerveja adoçava o assunto e afastava as inibições, enquanto olhares se entrepassavam sem jamais fixar-se nas retinas de um ou de outro. E é aqui, prezado aventureiro das letras, que eu e você nos desentendemos: já a amava. E a amava da noite anterior. Me dava conta que a amei no minuto em que a vi. E talvez, para maior loucura, já a amasse antes mesmo de conhece-la.

Naquele banquete, Platão nos falou - se lembra? - que tudo que reconhecemos no mundo sensível existiu antes no mundo das ideias. E foi nesse mundo que a amei primeiro. Estava ali materializada perante mim a ideia de mulher, tal qual deveria ter feito Demiurgo com todas as outras: perfeita! Um sonho cristalizado na minha frente. E sorria. E seus olhos brilhavam como estrelas.

Dirá que estou tresloucado, já sei. E te direi, no entanto, que é preciso amar. E ali, naquela noite, não nos conhecemos.

Ali nos reconhecemos.




Para inicio de conversa

Comecemos do começo
(seja ele qual for)

Com os "enta" já se insinuando no horizonte e após haver passado por um casamento sem frutos, a ideia da paternidade já tinha de certo modo desaparecido dos meus pensamentos. Ao mesmo tempo em que lamentava não deixar alguém para continuar minha história, já ia me resignando por também não ter com o que me preocupar nos anos futuros. Cuidaria de mim, do cachorro e de uma eventual companheira também já desestimulada a plantar um filho. Se muito!

Mas me faltava, eu sabia, esse desafio. Já havia plantado uma árvore. Aliás, mais de uma. O livro era e continua sendo questão de tempo. Me faltaria o filho. E me atormentava aquela canção de León Gieco que pedia a Deus que a morte não o encontrasse vazio, só e sem ter feito o suficiente.

Mas o fato é que ter um filho não é tão simples para nós, como foi, por exemplo, para a Xuxa. Não dá simplesmente para encontrar uma mulher disposta a ser mãe e perdir-lhe o favor de ter um filho seu. Até porque cabe a mãe viver os maiores dramas e os maiores prazeres do processo. Simplesmente deixei pra lá. Não pensava no assunto e o sufocava quando vez por outra se fazia perceber.

 Até que um dia tudo começou a mudar.

 Assim começamos a história.