terça-feira, 26 de junho de 2012

"Você apareceu do nada..."

E você mexeu demais comigo.


Creio, leitor amigo, que você não acredite em amor à primeira vista. Não te condeno, talvez eu também não acredite. E isso torna essa história em algo ainda mais inacreditável. Mas conto que sua boa vontade em acompanhar o relato que segue.

Foi uma noite em que a vi entre amigos. Não trocamos olhares, mal trocamos palavras após uma apresentação assim, assim... Mas me chamou a atenção na hora que se levantou para ir embora. Olhei, admirei e em silêncio me perguntei de onde havia saído aquela mulher. Entrou no carro acompanhada e se foi. Assim como se foram os outros e mais tarde se foi a noite. Porém, antes de dar por encerrada a jornada, busquei na modernidade que nos cerca e nos permite este diálogo algumas informações sobre a moça. Não tardei a encontrar e desfrutar um pouco mais daquelas imagens antes de cair em sonhos impublicáveis.

Seguindo a máxima do bandido e a cena do crime, na noite seguinte voltei ao mesmo local na esperança de vê-la novamente e, agora dotado de informações, ter a oportunidade de ao menos travar um diálogo. Noite de sorte! A conversa fluía, a cerveja adoçava o assunto e afastava as inibições, enquanto olhares se entrepassavam sem jamais fixar-se nas retinas de um ou de outro. E é aqui, prezado aventureiro das letras, que eu e você nos desentendemos: já a amava. E a amava da noite anterior. Me dava conta que a amei no minuto em que a vi. E talvez, para maior loucura, já a amasse antes mesmo de conhece-la.

Naquele banquete, Platão nos falou - se lembra? - que tudo que reconhecemos no mundo sensível existiu antes no mundo das ideias. E foi nesse mundo que a amei primeiro. Estava ali materializada perante mim a ideia de mulher, tal qual deveria ter feito Demiurgo com todas as outras: perfeita! Um sonho cristalizado na minha frente. E sorria. E seus olhos brilhavam como estrelas.

Dirá que estou tresloucado, já sei. E te direi, no entanto, que é preciso amar. E ali, naquela noite, não nos conhecemos.

Ali nos reconhecemos.




Para inicio de conversa

Comecemos do começo
(seja ele qual for)

Com os "enta" já se insinuando no horizonte e após haver passado por um casamento sem frutos, a ideia da paternidade já tinha de certo modo desaparecido dos meus pensamentos. Ao mesmo tempo em que lamentava não deixar alguém para continuar minha história, já ia me resignando por também não ter com o que me preocupar nos anos futuros. Cuidaria de mim, do cachorro e de uma eventual companheira também já desestimulada a plantar um filho. Se muito!

Mas me faltava, eu sabia, esse desafio. Já havia plantado uma árvore. Aliás, mais de uma. O livro era e continua sendo questão de tempo. Me faltaria o filho. E me atormentava aquela canção de León Gieco que pedia a Deus que a morte não o encontrasse vazio, só e sem ter feito o suficiente.

Mas o fato é que ter um filho não é tão simples para nós, como foi, por exemplo, para a Xuxa. Não dá simplesmente para encontrar uma mulher disposta a ser mãe e perdir-lhe o favor de ter um filho seu. Até porque cabe a mãe viver os maiores dramas e os maiores prazeres do processo. Simplesmente deixei pra lá. Não pensava no assunto e o sufocava quando vez por outra se fazia perceber.

 Até que um dia tudo começou a mudar.

 Assim começamos a história.